2023 é o ano do otimismo, comandado pela vontade de ser feliz, de ter mais leveza em tudo e mais liberdade para construir espaços disruptivos e calorosos. Esse recado fica muito claro ao percorrermos os corredores do Salão Internacional do Móvel de Milão, que em sua 61ª Edição registrou 307.418 participantes, 15% a mais em relação ao ano passado. A China recuperou seu lugar como o primeiro país de visitantes depois da Itália, seguida por Alemanha, França, Estados Unidos, com Espanha e Brasil empatados no próximo pódio. Em vez de pavilhões gigantes, o conforto também falou mais alto, já que tudo ficou concentrado num único piso, fazendo a circulação ficar mais prazerosa entre as marcas. Também ficou evidente que muitas marcas deixaram de estar no maior evento do planeta para ficar seus esforços nas lojas e showrooms próprios na cidade, já que o FuoriSalone vem ocupando um lugar cada vez mais importante no coração das pessoas.
A neuroarquitetura, que evidencia o bem-estar, além da saúde física e emocional, pôde ser notada (pelos olhares mais detalhistas, claro) até mesmo nos estandes das empresas, como têm acontecido nos últimos anos do evento. Um ótimo exemplo foi o estande da Flou, que estava com uma fila grande para entrar, mas conseguimos ver praticamente todos os lançamentos do lado de fora, justamente por eles terem fechado os espaços com vidros transparentes e criado áreas externas com muito jardim, tudo em busca de mostrar seus móveis, especialmente os concebidos para locais ao ar livre. E não era planta artificial não: ficamos tentando imaginar como as árvores e frutíferas gigantes chegaram até lá para tornar o estande uma experiência biofílica riquíssima. Aliás, as palavras biofilia e sustentabilidade foram destaques em toda a Semana de Design de Milão 2023. E para deixar nosso tema de hoje bem dividido e compreensível, apresentaremos as principais apostas das principais marcas presentes na feira.
Quanto mais aguçar os sentidos, mais fácil conseguir o bem-estar emocional dentro de casa. E assim começamos a contar sobre a nossa primeira macrotendência, que envolve a biofilia, as texturas e tudo que mexe com o nosso olfato, visão, tato, audição e paladar. Aqui, entra também tudo o que é feito a mão, é o ser humano mais presente. Deixamos de valorizar um objeto comprado pura e simplesmente pelo impulso, mas analisamos o que há por trás daquela peça, qual é a sua história, qual é o seu storytelling. O tempo em que ficamos trancados em casa, durante a pandemia, pudemos ter contato com o que é mais importante para a gente, descartando o que não é essencial. A nossa conexão com a espiritualidade, com nós mesmos, se torna urgente e a casa precisa abraçar tudo isso, com mobiliário e produtos simples, mas extremamente fundamentais para o nosso momento de vida.
Sim, ela não é nova, mas podemos dizer que ela se consolida e começa a entrar numa nova fase, não só com a presença das plantas, mas buscando tudo que remete à natureza. Houve a aposta das empresas em revestimentos sensoriais, que convidam ao tato, e em cores solares, para lembrar o pôr do sol. Vimos também muitas nuances de ocre, dos tons avermelhados, indo para o tijolo, o barro, que tanto nos leva a uma arquitetura de base, de história. Ao mesmo tempo em que temos tanta memória envolvida nessas cores, elas também vibram, pois estamos vivendo um momento mais enérgico.
Impossível não notar que os verdes e azuis também permearam muitos tecidos e revestimentos, mostrando que a mistura entre tudo, sem a preocupação de combinar esse com aquele também deu a tônica para o Salão do Móvel de Milão de 2023. Sabe o prazer de não ter a obrigação de acertar, de seguir regra disso ou daquilo? É usar tudo com mais liberdade, sempre buscando pontuar com uma pitadinha do que nos faz lembrar a natureza.
Se em 2022, as curvas explodiram, dando forma e um certo ar lúdico para o mobiliário das grandes marcas, esse ano elas ganharam uma nova óptica. Neurocientificamente, tudo acaba passando uma mensagem, um recado, e, neste momento, as curvas acentuadas e o excesso de peças ovais vão se tornando mais brandos, em detrimento das formas mais convidativas, leves, que abraçam. Junto disso, os tecidos encorpados, como camurças, cheniles e bouclês, ajudam a tornar esse design orgânico mais gostoso, como um colo de mães. São materiais que continuam tecnológicos, fáceis de manter e limpar, mas nada frios, lisinhos, pelo contrário, são totalmente acolhedores, acalentadores. Tem algo mais gostoso do que isso?
Encontrar soluções e materiais que causem menor impacto na natureza é a meta das principais indústrias, não à toa que o Salão do Móvel sempre entoa, pelos quatro cantos, a palavra sustentabilidade. Usufruindo dos conceitos da economia circular e do reúso, a grande instalação propôs a discussão de como as cidades são as possíveis maiores reservas de matérias-primas do futuro, a partir da exposição de novos materiais, sem deixar de alertar para o impacto das nossas escolhas de consumo para o meio ambiente. A Kartell, por exemplo, ampliou suas peças em collab com a marca de café Illy, aproveitando as capsulas da bebida para criar os produtos assinados por Antonio Citterio. E se a ideia é ir mais além, notamos que alguns estandes reaparecem aproveitando as mesmas estruturas de paredes, divisões e tetos. Mais do mesmo? Não, que tal pensar que a ideia é não descartar tanto material, juntar tanto entulho de um ano para o outro, e recriar com as mesmas matérias-primas, mas com outras ideias e soluções.
Vamos brincar um pouco com a casa, os objetos? Marcas dedicaram algumas de suas criações a um design focado no lúdico, na alegria e não estamos falando somente do segmento infantil, mas do público adulto que não quer envelhecer ou pretende se manter jovem por mais tempo. Os espelhos inovando nos formatos, as luminárias com cores divertidas, formatos de cogumelos (eles explodiram na Euroluce, feira dedicada à iluminação) e valorizando o nosso lado fun. As misturas de elementos, a busca por personalidade, a liberdade de criar nossos espaços e usar o que nos faz sentido, sem se preocupar com os julgamentos. Aqui, entra o design mais circular, fluido, dando lugar para a espontaneidade e a alegria.
É claro que há muito mais ideias, mais apostas, mas a intenção hoje era pincelar os principais temas, os mais evidenciados por especialistas em design e tendências. Alguns apontamentos, certamente, acabam ganhando mais forma com o tempo, outros se esvaziam e alguns vão se moldando e até modificando, dando espaço para diferentes tendências. E se você ama estar sempre informado, antenado com o que acontece de mais novo, já anote aí: a próxima edição acontecerá em Milão, entre 16 e 21 de abril de 2024. Estaremos juntos novamente!